Número de nações pobres caiu de 60 para 39 desde 1990; economias médias passaram a reunir 75% da população em condição de miséria
Com a diminuição do número de países pobres de 60 para 39 desde 1990, e a consequente ascensão desses territórios à categoria de economias de renda média, cerca de 75% das pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia estão hoje em nações cujo PIB per capita está acima da linha que define se um Estado é pobre ou não, avaliada em US$ 995.
É o que revela o estudo “E se Três Quartos dos Pobres do Mundo Viverem em Países de Renda Média?”, conduzido por Andy Sumner, do Instituto de Estudos sobre Desenvolvimento do CIP-CI (Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo), órgão do PNUD em parceria com o governo brasileiro.
“Estimamos que em 1990 cerca de 93% das pessoas em situação de miséria viviam em economias frágeis. Em contrapartida, entre 2007 e 2008, três quartos dos cerca de 1,3 bilhão de pobres do mundo viviam em nações de rendimento médio”, analisa o artigo.
A constatação levanta questionamentos sobre a classificação das nações de acordo com o PIB per capita, adotada desde o início dos anos 1970 pelo Banco Mundial. A renda de uma série de países ultrapassou a barreira dos US$ 995 nos últimos 20 anos, mas apenas uma pequena parcela de sua população efetivamente vive com mais de US$ 1,25 por dia.
Para o BIRD, uma economia de renda média tem PIB per capita situado entre US$ 996 e US$ 12.196.
“Crescimento sem transformação social, econômica ou política são um ponto de partida para explicar a persistência de altos níveis de pobreza absoluta nos países de renda média. Quando se faz uma análise desse grupo, mudanças no emprego agrícola são evidentes, mas, surpreendentemente, há poucas alterações na desigualdade e nas receitas fiscais”, acrescenta o estudo.
O documento do CIP-CI revela ainda que apenas 23% das pessoas em situação de miséria vivem em Estados frágeis e afetados por conflitos, dez pontos percentuais a menos do que o estimado há duas décadas.
“É uma mudança surpreendente em um curto período. Isso significa que, mesmo que o ODM número 1 fosse plenamente atingido por todos os Estados com economia frágil ou que enfrentam alguma guerra, ainda teríamos 900 milhões de pessoas pobres vivendo nos países estáveis e com rendimento médio.”
Novos desafios
Para reverter a situação, o documento pede uma revisão de metas de desenvolvimento humano baseadas na redução da pobreza pelo incentivo ao crescimento econômico. A nova agenda, acrescenta, não deveria visar como única medida à redução da miséria, mas, sim, adotar uma carteira de objetivos que promovam mudanças de longo prazo e permanentes através de investimentos e transferências de renda.
“Uma forma de leitura dos dados é a de que a pobreza está deixando de ser internacional e se tornando um problema de distribuição nacional. Além disso, a tributação e as políticas de redistribuição interna dos governos estão se tornando mais importantes do que a ajuda oficial ao desenvolvimento."
BRUNO MEIRELLES
da PrimaPagina
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